Capítulo 12 – Mary – Aprendendo a recomeçar
-
Capítulo 12 – Mary – Aprendendo a recomeçar
Eles faleceram?
- Acho que eu fui culpada em “matá-los” da minha vida. Saí de casa para me casar com Richard e os deixei. Eles eram contra esse relacionamento. Eu era muito jovem, mas totalmente apaixonada por ele. Deixei tudo, absolutamente tudo por um homem que não me deu valor.
- Há quanto tempo não tem notícias deles?
- Desde que saí de casa, há uns 20 anos…
- Nossa! Faz tempo.
- Nem sei se estão vivos.
Nossa conversa parou por aí. Achei melhor sair e olhar o campo, que parecia me chamar para tocar nas flores. Aliás foi o que eu fiz. Toquei nas flores, tive a necessidade de senti-las.
Uma mais linda que as outras umas com espinhos, outras delicadas, outras até pareciam desenhadas de tão perfeitas. Realmente Egle tinha muito bom gosto.
- Quero que os doces da nossa confeitaria tenham sabores e visuais do campo. Estou com tantas idéias que minha mente está sendo pequena para guardá-las.
Rachel grita alvoroçada com a beleza do lugar:
- Estou amando tudo isso, Mary. Imagina a revolução que será quando confeccionarmos os doces personalizados!
Tomamos nota de alguns detalhes e voltamos para a nossa área de trabalho, a saber, a cozinha.
Tantas idéias, tantos planos… Mas um coração cheio de amargura.
Eu passava as noites chorando. Meu travesseiro já tinha as marcas amarelas das lágrimas. Meu olhar, cada dia mais caído.
Não entendia o motivo. A empresa estava indo bem. Conseguimos um outro local para a “Delicateci” bem no centro da cidade. Lugar amplo e arejado. Colocamos as flores do campo de Paul ou Egle, não sei bem a quem pertencia de fato. A frente da loja ficou simplesmente linda. Doces delicados e flores, uma combinação perfeita. A movimentação se tornou grande. Ficamos conhecidas na cidade. Tonny sempre ao nosso lado, dando dicas e nos auxiliando.
-=-
Sete meses depois.
- Vamos logo, Mary, temos que chegar à igreja antes da noiva.
- Estou indo, me deixa tentar arrumar esse cabelo. – disse toda desengonçada tentando fazer coque com uma flor, afinal, ele já estava na altura dos ombros.
Karen, prima da Rachel, iria se casar naquele dia. É claro que os doces ficaram por nossa conta. Rachel era uma das madrinhas. Estava linda. Penteou seus longos cabelos, prendendo-os na altura da nuca. Um vestido azul celeste longo com rendas nas mangas. Maquiagem leve, mas combinando perfeitamente com tudo.
Eu, como iria ficar no fundo da igreja, não me preocupei muito com a maquiagem. Um conjunto de calça no tom caramelo e sapatos adequados para uma portadora de prótese. Sempre gostei muito de usar saias e vestidos caríssimos. Pagava o preço necessário para ter uma saia de grife com exclusividade. Depois de usá-la uma vez, já descartava, dando para Anna levar aos pobres. Hoje não uso mais saias, nem vestidos, tenho muita vergonha… Também tenho saudades de Anna.
Devia ter aproveitado mais sua presença quando pude…
Já na igreja, como imaginado, me sentei no último banco. Fiquei observando as pessoas. Mulheres lindas e mulheres simples. Algumas cumprimentavam, outras esnobavam. Eu fui uma das que esnobavam.
Agora percebo o quanto eu era mesquinha. Perdi tanto tempo…
Avisto Anna no canto direito do lado do altar. Ela está arrumando o arranjo que a criança deslocou ao pular de um lado para o outro.
Uma grande vontade de abraçá-la. Estava com saudades, mas também queria saber do desgraçado do Richard. Ela era a única pessoa que podia me falar como ele estava. Claro que eu quero ouvir a pior desgraça em sua vida e da sua “nova família”.
Meu desejo era que ela dissesse que ele havia morrido, ou de repente que estava em uma cama sofrendo muito. Eu queria muito que ele sofresse, queria vê-lo sendo comido por vermes, ou até por uma doença que o fizesse sentir muitas dores… Eu o odeio… Eu o odeio…
Queria ter poder. Sim. Poder para sufocá-lo dia a dia. Poder para tirar a paz daquele maldito… afinal, foi ele que tirou minha paz. Ele me faz sofrer e me destrói dia a dia. Vivo para vê-lo sofrer.
No final da cerimônia, fomos convidados a entrar no salão ao lado que ficava de frente a um jardim, para uma pequena festa apenas para amigos. Se me perguntarem o que o pastor falou… não tenho a mínima idéia. O tempo todo ficou matutando em como poderia matar o Richard. Nem sei como a noiva entrou. Fiquei em pé porque todos ficaram, mas em nenhum momento prestei atenção em nada.
É assim que estou vivendo… sendo consumida pelo sentimento.
Como eu era amiga de Rachel, também tinha o direito de estar lá.
Um toque em meus ombros.
- Meu Deus, quanta saudade da senhora! – disse Anna com olhos marejados.
Um abraço muito apertado. Abraço de saudade e de gratidão.
- Anna, minha querida Anna…
- A senhora está tão bonita!
Acho que ela queria me agradar.
Sentamos-nos à mesa perto do chafariz. O barulho da água era gostoso de ouvir. O som da música estava dentro do salão, assim pudemos conversar com mais tranqüilidade naquele jardim cheio de flores amarelas.
- Como a senhora tem passado?
- Quero agradecer você, porque Rachel tem me ajudado muito. Estou mais confiante e querendo recomeçar.
- Mas a senhora já recomeçou. Estou sabendo que a empresa está indo muito bem.
- Sim, tudo está indo bem, mas não consigo ter paz. Dentro de mim parece um vulcão que irá entrar em erupção a qualquer momento.
- Vejo em seus olhos angústia e desespero…
- Quero saber do desgraçado. Ele já morreu?
- Não. Está forte e bem forte. Sabe como ele é, um verdadeiro touro.
- Sonho todos os dias com o sofrimento dele.
- Isso só vai destruí-la. A mágoa destrói quem a traz dentro de si e não a outra pessoa.
- É a mágoa e o ódio que sinto por ele que me fazem levantar todos os dias.
- É por isso que está sempre triste isso ainda vai levá-la à morte.
Respirei fundo para não gritar com Anna, tamanha raiva que fiquei ao ouvi-la me repreender. Eu poderia não ser mais sua patroa, mas por muito tempo paguei o seu salário.
- Olá, tudo bem? Estava procurando por você. – disse Tonny ao se aproximar da nossa mesa.
- Sente-se. Essa é Anna, minha, minha… minha amiga. – fiquei pensando no que Anna seria para mim. Outrora seria minha empregada, mas agora…
- Provou dos doces, Anna? – disse Tonny.
- Uma verdadeira iguaria. – respondeu mostrando o doce de morango com a borboleta.
- Sim, eu que descobri o talento de Mary. – falou rindo.
- Estamos com casa nova, Anna. Rachel tem me ajudado na parte financeira. É uma ótima contadora e administradora.
- Tenho muito prazer e orgulho da minha filha. Uma verdadeira alegria em minha vida. Rachel nunca me deu motivos de tristeza.
Lembrei-me do dia em que minha mãe chorou porque eu saí de casa somente com a roupa do corpo. Engraçado como eu deletei meus pais da noite para o dia. Somente agora, depois de muitos anos, me lembrei deles. Tonny me fez relembrar…
Continua no próximo domingo.
Perceba que Mary mesmo passando por tudo isso
ainda continua arrogante em seus pensamentos.
É por conta disso que muitas pessoas não conseguem conhecer a Deus. Devem
deixar a prepotência, o sentimento, o orgulho de lado e se entregar sem
reservas a Ele.
Somente assim poderão conhecê-Lo de verdade.
@meuriluiza
Comentários